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  • Foto do escritorSusana Cruz

Esmola ao Diabo



Um dia, o camponês em viagem passou por uma estalagem e pediu que lhe servissem um ovo cozido, no momento de pagar a conta deparou-se com valor bem acima do que esperava para um ovo cozido. Seria o valor do ovo, do pintainho e da galinha que resultaria do ovo caso não fosse cozido. O camponês recusou-se a pagar e ambos foram a tribunal. Sendo que o camponês era desconhecido da vila onde estava, o dono da estalagem arranjou testemunhas que estivessem do lado dele, mas o camponês ficou sozinho. Apareceu um homem, bem vestido, também ele desconhecido dos habitantes da vila, que imediatamente se ofereceu como testemunha e advogado do camponês.

No dia seguinte aparecem todos a tribunal, mas o advogado atrasa-se. Quando chega o juiz pede explicações pelo atraso ao advogado do camponês e este diz que demorou pois cozia tremoços para semear. O juiz torce o nariz e afirma que isso é impossível, pois toda a gente sabe que tremoços cozidos não dão para semente. Ao que o advogado concorda e insiste que ovos cozidos também não dão pintainho, nem galinha, por isso seria um absurdo cobrar ao camponês tal valor pelo ovo cozido.

O camponês estava livre desta feita graças ao homem desconhecido e insistiu que teria que lhe pagar o transtorno de estar ali para o defender. Do outro lado, o desconhecido afirmou que o camponês nada devia, pois que o favor tinha sido pago ao longo dos anos de esmola que o camponês deixava na imagem do diabo na capela de sua aldeia.

A história tem passado de geração em geração em vários pontos do país. E entenda-se que popularmente o povo português não tem intenções de revoltas contra o diabo, tornando assim o povo tolerante às várias figuras de várias crenças. Senão pensemos nos diabos de Amarante, de Barcelos e de Lazarim.

Serve a história também para ensinar os mais novos a não tomarem como certo alguém que aparenta ser maldoso, há esperança em que todos pratiquem o bem.

Também não devemos esquecer que acredita-se que o diabo mais não é que um anjo caído do céu.

Pensava eu que a história mais não era que uma parábola, nunca tinha ouvido ninguém que desse esmola ao diabo, e é também rara a representação do diabo numa igreja senão aos pés de outros santos e arcanjos.

Entretanto vim a saber de uma romaria nos finais de agosto a São João da Agra, em Caminha em que todos os romeiros deixam uma moeda ao Santo e outra ao Diabo.

A história passou a ter para mim outro sentido.


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