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  • Foto do escritorSusana Cruz

Carnaval Genuíno XXII - 2 anos depois

Capítulo 22

MIGUEL



Dois anos depois.

Tudo tem corrido de feição. Os meus pais insistiram para que a casa deles ficasse para mim e é lá que vivo com a Matilde desde que nos casamos em Outubro. Sim, agora somos casados. Foi há um ano atrás, exatamente em Domingo de Carnaval que a pedi em casamento. Estava ela na varanda da minha casa, embora não vivesse comigo, estava lá junto com os meus pais e a sua mãe. Foi com a vila toda a assistir. Devo dizer que foi uma grande pressão. Pedir a Matilde em frente ao pessoal todo da aldeia a assistir, até me deu medo. Nesse dia, só ela é que não sabia o que iria acontecer. Levei na mão a caixa da aliança e na varanda, tal qual se vê nos filmes, ajoelhei-me e pedi-a em casamento. Os olhos dela brilhavam e a felicidade dela era tanta. São dos momentos como estes que valem a vida.

Agora estamos mais uma vez em época de carnaval, e pela terceira vez, visto o fato de careto que era do meu pai. Este fato acompanhou-me desde o primeiro dia em que vi a Matilde na varanda. Todo aquele tempo que vivi na França nunca imaginei que o meu futuro, felicidade e amor fosse em Podence, nesta vila pitoresca onde nasci, que esta festinha de bairro me fosse mudar a vida e que este fato pesado e barulhento fosse tão libertador. Pertenço a Podence, pertenço aos Caretos, pertenço à Matilde.

Hoje, casado, visto-me em casa e peço à Matilde para me ajudar a apertar o fato. Ela tem andado um pouco estranha, muito calada.

- Tens a certeza que está tudo bem, Matilde? - Ela abraça-me fortemente, respira de forma lenta e prolongada como se fosse despedir de mim. - Boneca, eu estou aqui, prometo que venho cedo para os teus braços outra vez. - Após uns segundos de silêncio ela fala.

- Eu sei. - Estou realmente a ficar preocupado. Uma frase com duas palavras, não é hábito dela, esconde alguma coisa.

- Matilde está tudo bem entre nós? Sabes que eu faço qualquer coisa por ti, certo? - Esconde qualquer coisa, mas com aquele sorriso tão aberto deve ser do mesmo que eu. A lembrança de que a festa de Carnaval é um momento especial para nós. Quando nos conhecemos, quando começamos a namorar e quando a pedi em casamento. Abraço-a outra vez, só espero fazê-la para sempre tão feliz como ela está agora. Amo-a do fundo do meu coração.

Batem à porta. São o Zé Carlos e o Zé Manuel.

- Vamos pinga-amor, os outros já esperam por nós na tasca. - Enquanto me despeço da Matilde eles insistem. - Oh, larga-a, vais passar a noite toda com ela! - Sempre o mesmo Carlos, chato como nunca vi igual.

- Até logo, bonequinha. - Sigo vila abaixo com os irmãos.

É o segundo ano que o Manuel nos acompanha, juntos abrimos uma pequena escola de karaté e ele participa entusiasticamente. E tem resultado muito bem, tem mais controlo do seu nervosismo. Ou isso ou a razão pode mesmo ser a Mariana. Começaram a namorar um mês depois de mim. Se eu achava que a Matilde era arisca, a Mariana literalmente usa as calças naquele casal, e parece que resulta bem entre eles. Ele e a Mariana estão a juntar dinheiro para abrir um restaurante em Macedo de Cavaleiros próximo à cooperativa, tiram partido do curso de cozinha que ela fez e juntando ao que ele tem aprendido comigo, querem criar o primeiro restaurante Fine-dining, até eu estou com alta expectativa do restaurante.

O Manuel tem trabalhado comigo na venda, seleção de vinhos e harmonização de vinhos com a comida. Devo dizer que assim que abriu a mente, ele mostrou-se um aluno fantástico e verdadeiro braço direito de trabalho.

Vamos descendo a rua, ainda sem fazer barulho, silenciosos como ratos, até chegar à tasca do Sr. Celestino.

Entramos, um a um e o Carlos abraça-se imediatamente à Leonor. Namoram desde há pouco mais de um ano, quando ele pensava que ia ser difícil lidar com o pai, afinal era a filha quem impunha o respeito naquela casa. Ela ainda estuda e ele acabou o curso de gestão, já tem um hostel em Podence. Ai, que ser filho do presidente da junta ajuda a aligeirar os processos complicados. Convenci-o a entrar no ramo da hotelaria recebendo principalmente os investidores convidados a conhecer a tradição vinícola da região.

Vai uma cerveja, piadas e alguns picanços entre machos e finalmente o grupo decide que é hora de ir. E lá seguimos, como sempre subindo ruas, descendo travessas, batendo à porta e arrancando sorrisos às velhinhas. Até que chegamos à porta que eu mais ansiava.

Chocalhamos bastante aguardando a Matilde aparecer à janela. Ela aparece, bonita como no primeiro dia, a minha sogra e os meus pais. Outras pessoas se aproximaram… Tanta gente, está a parecer intimidatório! Lamento desapontar-vos, o pedido de casamento foi o ano passado.

Subo à varanda, salto a grade e pego nas mãos da Matilde. A sua mão esquerda está aberta e a aliança ainda brilha, estamos casados há menos de 1 ano. Mas a mão direita, está fechada e virada para baixo. Olho para os olhos dela que brilham ainda mais que a aliança.

- O que tens aí? - Ela respira fundo e levanta as mãos devagar formando com elas uma concha, dentro tem um objeto enrolado numa fita verde. Pego na fita, vou levantando devagar para não deixar cair nada e fico confuso. Numa das pontas da fita tem uma chupeta. Ainda penso lento por um bom bocado, tanto que me passa pela cabeça que nem eu compreendo no que penso. Resumindo, chupeta quer dizer bebé, que se calhar quer dizer que ela deve estar grávida, que deve querer dizer que eu vou ser pai. De novo, só a Matilde para me deixar assim sem palavras. Por momentos esqueço que temos umas dezenas de pessoas à nossa volta que aguardam a minha reação. Não consigo deitar para fora as palavras que me passam pela cabeça.

A Matilde é paciente, dá-me o tempo que eu preciso para absorver a novidade. Entretanto já toda a gente à volta celebra e eu volto lentamente à terra. Todos os gritos e chocalhos fazem-me acordar.

- Vamos ser pais? - Pergunto a medo.

- Sim, seis semaninhas.

- Era isso que escondias? Malandra! - Então era esta a felicidade que ela trazia esta manhã, à medida que o meu pensamento vai aterrando, vou sorrindo cada vez mais, é incontrolável esta sensação de bem-estar e euforia. Agarro-me a ela e dou-lhe um beijo como nunca tinha dado, e levanto-a no ar. Não a quero largar nunca mais. A mulher da minha vida e a mãe dos meus filhos, ou melhor, futuros filhos. Vou ser pai! Vamos ter um filho juntos!

Pouso-a no chão, e focamos um no outro. Nada mais em volta nos interessa.

- Eu nunca te vou deixar, vou fazer-te feliz para sempre, eu prometo. Amo-te. - De testas encostadas e bem agarrados um ao outro estamos mais próximos que nunca.

- Também te amo.

FIM

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