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  • Foto do escritorSusana Cruz

Carnaval Genuíno XXI - No Lago

Capítulo 21

MATILDE




Ainda tenho a cabeça a andar à roda. Eu sei que é uma coisa que esperamos há montanhas de tempo, mas nunca estamos preparadas para o momento. Esta noite, eu e a minha mãe decidimos dormir na mesma cama, lado a lado, abraçadas.

No início era silêncio, mas passados 10 minutos começamos a conversar. Perguntou-me como tinha corrido as tarefas dela, se perguntavam pela falta dela por cá. Mas as perguntas que ela queria mesmo saber era sobre o Manuel e o Miguel. Eu acabei por contar tudinho o que aconteceu. É a minha mãe, que posso eu esconder dela? Ela percebe tudo.

- Amanhã podes ir sozinha com ele ao lago. - Fico embasbacada. Não, não posso, a minha mãe também tinha que descontrair, não quero que fique sozinha?

- Mãe, a ser verdade, temos muito tempo para… E tu deves ter imensas saudades do lago. Vamos todos lá.

Ficamos nestas conversas durante horas. Sentimos o maior cansaço a meio da noite, já passava das três da madrugada, e adormecemos.

No dia seguinte preparamo-nos e vamos a pé até ao lago com o Miguel, os pais dele também estão disponíveis, ainda bem, a minha mãe não se sentiria sozinha.

Sinto-me bem ao lado do Miguel, pouco falamos durante o dia, ainda me sinto em baixo pela minha avó. Eu sei, eu sei, todos nós para lá vamos e já estava previsto há muito que ela iria acabar por partir. Repito na minha cabeça que o mundo não acaba aqui, ainda muito tenho para viver.

- Dona Isaura quer fazer uma caminhada connosco? - Pergunta a mãe do Miguel.

- Sim, agradeço o convite, há já muito tempo que não faço caminhadas. – A minha mãe levanta-se imediatamente e segue com os Srs. Matos. Ficamos eu e o Miguel sozinhos.

O Miguel está deitado na toalha de praia que trouxe e eu pego no meu livro e começo a ler.

- Boneca, o que estás a ler? - Pergunta o Miguel enquanto estica o nariz para o livro.

- Reino maravilhoso de Miguel Torga. Comecei a ler o livro depois do que disse o Sr. Oliveira falou tão orgulhosamente da região. Acho que tu deves de gostar de ler, fala sobre as terras, as gentes e as tradições. - Respondo e faço uma pausa esperando que ele faça mais perguntas. Em vez disso ele coloca o braço por trás das minhas costas e pousa o queixo no meu ombro. Oiço o respirar dele, fecho os olhos tentando sentir o cheiro dele e instintivamente inclino ligeiramente a cabeça para ele procurando o seu cheiro, tão leve que nem eu notei a quão próxima estava da cara dele. Sinto a mão dele a deslizar o meu braço acima e pára antes de chegar ao ombro e agarra leve o meu braço. Abro os olhos e ele está a olhar para mim com um sorriso lindo. Para mim o tempo parou, fico completamente imóvel só a desfrutar da imagem dele. Ele desce a mão até à minha e tenta entrelaçar os dedos dele nos meus. Descontrai, Matilde, deixa-te ir. Fecho outra vez os olhos e deixo-me levar por ele. Ele encosta-se um pouco mais a mim, sinto-o a abraçar-me e as nossas cabeças encostam-se. Tudo tão lento mas tão intenso.

- Já estou há uns dias para te perguntar se, se queres namorar comigo e não…

- Aceito. - Não deixo que termine e respondo logo abro os olhos para ver os dele a brilhar e ri-se para mim.

- Uau, já pensaste? - Mas o que há para pensar?

- Não tenho dúvidas. - E continuo a olhar para ele.

- Posso beijar-te? - Claro, palerma, já o devias ter feito.

Não espero que ele tente. Pouso o livro, puxo a cara dele para mim e beijo-o. Muito diferente do primeiro, roubado e demasiado rápido. Este está a ser saboreado segundo a segundo. Ele ainda dá um espaço para respirar, mas eu não deixo. Não quero largá-lo. Ele é meu agora.


Comments


Susana Cruz.jpg

Olá, que bom vê-lo por aqui!

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