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  • Foto do escritorSusana Cruz

Carnaval Genuíno XII - Convite a casa da família Matos

Capítulo 12

MATILDE







Sabendo que estou por Bragança, a minha prima Mariana vem ter comigo e anima-me. Ela é a minha grande amiga, ela é um raio de sol que me anima. Ela sempre foi muito alegre, é capaz de ver o bom em tudo o que se passa, sempre com piadas que me fazem rir. Ela é a única pessoa da família com quem a gente se dá. Os restantes elementos família quebrou-se por causa das heranças dos meus avós maternos. O pouco que havia em nome dos meus avós foi o suficiente para haver discussões e confusões entre os irmãos da minha mãe. A minha mãe nada quis, os meus tios dividiram entre eles e um perdeu tudo o que recebeu, originando assim mais discussões entre esses dois. A Mariana, tal como nós, colocou-se de lado dos conflitos. Agora somos grandes amigas e confidentes. Ela sabe tudo o que se passa comigo e eu com ela. E tem sido o grande apoio da minha mãe nestes últimos meses. Devo-lhe a vida.

Na noite de quinta-feira a Mariana insiste que temos que sair.

- Vá lá. Estamos as duas solteiras, temos pelo menos que nos divertir com uma música e bebidas. - Que estamos solteiras ela tem razão, mas não quer dizer que não tenha alguém debaixo de olho.

Conto-lhe nessa noite o que aconteceu na varanda, na cooperativa e na tasca do Sr. Celestino.

- Oh miúda, e estavas a guardar essa aventura toda só para ti? Conta lá um pouco mais desse tal Miguel. - De tudo o que falei, a atenção dela virou-se para o Miguel? E a violência do Zé Manuel? E a ausência dele da vila? E as feridas que eu tenho nas mãos?

- Mariana, de tudo o que eu te disse estás preocupada com o Miguel?

- Meu doce, nem parece que me conheces, a mim só me interessa homens. - Pisca-me o olho. - Sim, sim, já estás a melhorar dos teus cortes nas mãos, a separação entre ti e o Manuel era esperada há muito tempo… - O quê?! Ela esperava a minha separação?

- Oh, Matilde, não me olhes assim, ele nunca te mereceu, se eu estivesse no teu lugar já lhe tinha dado um par de estalos para ele se endireitar. Mereceu o pêro. Espero que ele se lembre desse pêro por muitos anos. Mas o que me interessa é que, cada vez que falas do Miguel e do careto, ficas com um brilhozinho nos olhos invejável. E é exatamente isso que eu quero de ti. Quero que sejas feliz, por isso fala-me desse jeitoso, desse careto. - Fico em silêncio por uns momentos. Ela tem razão, eu tinha-me apaixonado pelo careto, nos últimos dias só pensava no careto, e agora que sei que o Miguel é o careto começo a olhar para ele de forma diferente.

- Ele é mais alto que eu, bem constituído. Ok, ele é giro, admito. Parece um cavalheiro, mas só pode ser um pinga-amor. Nenhum homem assim está solteiro, livre para mim. Tu própria dizes que homens perfeitos estão todos ocupados. - Tento disfarçar o interesse que eu começava a mostrar pelo Miguel.

- Homens perfeitos como ele, com que então achas que ele é perfeito? - Caiu-me tudo, olho para ela e ela sorri para mim, caçou-me. Eu gosto do Miguel, eu acho-o perfeito.

- Afinal não estamos aqui a fazer nada, tenho é que te dar umas lições para o deixares caidinho a pedir por mais, porque gostar de ti, já gosta. – Lá está ela a insistir. Resmungo, alegando que ele nunca disse que gostava mim. - Ainda dúvidas, querida, o que ele tem feito é muito mais que cavalheirismo, acorda para a vida, amor!

No sábado, a Mariana deu-me boleia até Podence. Mas antes fomos comprar os ingredientes necessários para o almoço com o Miguel e os pais dele.

- Grande ideia, querida, conquistar o homem pelo estômago. Mas sabes que precisas mais do que isso para ele ficar de rastos, certo? – A Mariana faz-me rir. Sempre a pensar em homens. Mas sim, eu queria impressioná-lo com as receitas escolhidas e não só. A Mariana está a espicaçar-me e a deixar-me nervosa.

- Sim, pronto, vou impressioná-lo com o melhor de mim. - E pronto, calou-se, finalmente. Já me bastava o meu pensamento estar nele durante as últimas noites, ainda tinha que ouvir a Mariana a provocar.

Chegamos a Podence e a Mariana para o carro junto à porta dos pais do Miguel. Pegamos nos sacos das compras e bato à porta antes de abrir.

- Sou eu, a Matilde, posso entrar? - A voz lá dentro autorizou-me a entrar. Rodo a chave e entro com os sacos. O Miguel aparece de calças de fato de treino. Só, de calças de fato de treino, e tronco nu. Fico paralisada a olhar para ele. Sustenho a respiração olho-o de cima abaixo. Uau, ainda fica melhor sem camisola. Qual deus grego! Que troféu! O cabelo ainda está húmido. Vem do banho. Que imagem!

- Não sabia que vinhas acompanhada, vou só ao quarto vestir uma camisola, sintam-se em casa. - Diz o Miguel enquanto se dirige para o quarto dele. Acordo com as cotoveladas da Mariana.

- Oh, prima! Diz-me que estás interessada nele! Matilde reage, querida. - Eu ainda estou em câmara lenta, será que vi bem? Ele apareceu à nossa beira em tronco nu.

- Ai, meu doce, ele disse que te esperava sozinha, e aparece sem camisola?! Ele está claramente interessado em ti, mas posso testar, senão te importares. - Olho para a minha prima, testar?! Que é que ela quer dizer com isso?

- Mariana, tem juízo. - Entretanto aparece o Miguel, já com a camisola prometida, ficava bem melhor sem ela.

- Olá, sou a Mariana, a prima da Matilde, deves ser o Miguel. Muito prazer, ouvi falar muito bem de ti. - Eu ainda tentava assimilar o Miguel em tronco nu e a Mariana já se apresentava!

- Muito gosto, Mariana, sinto-me lisonjeado, foi a Matilde que falou bem de mim? - Ao referir-se a mim, ainda bloqueio mais a respiração, que é que vou dizer, o que é que vou dizer agora?!

- Matilde vens comigo à casinha de banho? Quero dar-te uma palavrinha. Desculpa, Miguel, é coisa de senhoras.

Ela sorri maliciosa e já na casinha de banho diz-me baixinho: - Admite que gostas dele. - Continuo em silêncio, ainda a carborar.

- Ok, não admites, eu tenho o caminho livre para aquele jeitoso. - Desta vez eu avanço, agarro o braço dela para a parar. Olho-a nos olhos, não sei o que diziam, mas estou confusa, não sinto coragem de avançar, tenho medo de arriscar pois podia acabar como a relação anterior. Os olhos da Mariana mostram-me que me compreendem, são ternurentos e fazem-me sentir mais calma.

- Querida… - Recomeça ela. - …Ao que me tens falado sobre ele e ao que vejo, podes até não ter à tua frente o príncipe encantado dos contos de fadas, mas tens seguramente um rapaz sem igual. Ele tem cuidado de ti como ninguém. Podes não saber se resulta, mas se não tentares não sabes. - Percebo o que me diz, tenho que perder o medo. - Além do mais, meu anjo, ele é cá um pão! - Rimo-nos, é verdade, estava ali homem sem igual, sim, era perfeito.

Saímos da casinha com outra atitude, mas para meu espanto a Mariana despede-se à pressa e sai porta fora piscando o olho. Ai, malandra que me deixas sozinha com ele!

O Miguel acompanha a Mariana até ao carro. Deixo de os ver.

Mas o que é que se passou aqui? Em questão de segundos ele aparece em tronco nu, a mariana provoca-me e sai a correr deixando-me sozinha com o Miguel. O que é que eu vou fazer? Se com a Mariana a meu lado eu paralisava, como vai ser ficando sozinha? Ah, não estou em pânico! Respira, Matilde, respira. Ninguém te vai bater, é só uma paixoneta. Uma paixoneta que me faz reagir pior do que se estivesse a ser perseguida de morte! Calma, que vem aí o Miguel. Respira Matilde! Por favor.

Não posso dizer que esteja calma, mas congelada. Foco a minha atenção no seu sorriso. Não consigo evitar, mas sorrio também.

- Eu levo as compras para a cozinha. – Oh, diabo, fiquei paralisada outra vez.

- Eu posso levar… - Ele já tinha pegado nas sacas todas antes de eu conseguir terminar a frase.

Vou atrás dele para a cozinha. Ainda um pouco desorientada começo a pegar em bacias e travessas, e a distribuir pelo balcão. E coloco a panela a ferver. Tenho ainda que preparar o forno para colocar a Alheira e as brasas para a posta de vaca Mirandesa.

- Posso ajudar-te? - Pergunta ele, mas eu não acho necessário que me ajude.

- Está tudo em ordem e ainda é cedo, temos muito tempo para preparar os pratos. - É então que ele se aproxima de mim com ar de preocupado.

- Deixa-me ver como estão as tuas mãos, ainda doem? - Até me tinha esquecido das feridas nas mãos.

- Estão a sarar bastante bem, as luvas ajudam. – Roda as palmas das minhas mãos para cima.

Com uma das suas mãos segura na minha cara e olha-me atentamente para as duas faces.

- Ainda tens uma nódoa negra, a maquilhagem não disfarçou por completo. - Diz ele, ternurento, enquanto eu me derreto nas suas mãos. Levanta a mão esquerda, beija-a e leva-a até o seu ombro, desliza a dele pelo meu braço até chegar à minha cintura e segura-me firme sem magoar, com a outra mão na cara vai-me acariciando e direcionando a minha cara para a sua, muito devagar. Eu poderia impedir, tive mais do que tempo, mas não quero. Quero que ele continue e quero beijá-lo. Mas somos impedidos pelo som da fechadura da porta, e alguém que entrava em casa nesse momento. Estraga o ambiente que se tinha formado a dois.

- Miguel, querido, chegamos. - São os pais do Miguel, fecho os olhos. Agora compreendo aqueles momentos de filme em que a cena do beijo é interrompida pelos personagens secundários sem que estes se apercebam do que está a acontecer em cena principal. O meu pensamento de desilusão foi também interrompido pelo beijo fugaz que o Miguel me deu. O Miguel roubou-me um beijo enquanto eu tinha os meus olhos fechados e fugiu para o outro lado da cozinha. Não cheguei a saborear. Ladrão.


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