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  • Foto do escritorSusana Cruz

Carnaval Genuíno VI - De volta à Vila

No caminho para a casa, vou a pensar numa lenda japonesa que se encaixa na perfeição neste meu regresso à vila. Akai Ito, o fio vermelho do destino. Tudo na nossa vida ocorre por uma razão. Ao voltar à terrinha não procurei nova paixão, ela apareceu na minha varanda, não corri atrás dela, ela apareceu no meu trabalho. Diz a lenda que se o destino quer, mais tarde ou mais cedo, que, aqueles ligados pelo fio vermelho do destino, acabam por se encontrar. Veremos o que acontece a partir daqui. A ser verdade, que Deus me dê força para o que vou encontrar daqui para a frente.


Entro na vila e paro o carro junto a uma senhora de casaco comprido, capuz sobre a cabeça e carregada de sacos e com caminhar cansado e lento.


- Quer boleia, senhora? - E surpresa, é a Matilde. E cá está a confirmação da lenda que pensava há pouco.


- Matilde, que fazes a pé com esses sacos todos? Para onde vais? Eu levo-te, anda daí. - Saio do carro e tento pegar-lhe nos sacos, ela deixa-os cair e trava-me com a mão marcada a vermelho pelo excesso de peso dos sacos de compras.


- Não posso ir contigo no carro. - Diz-me ela com dificuldades de respiração. Acho que percebo o que ela quer dizer, mas não vou dar a entender.


- Pronto, então vamos os dois a pé e eu levo os sacos. - Digo eu cheio de confiança.


- Não, não é isso! Eu não posso ir contigo. - Agora eu não posso disfarçar mais. Ela encara-me nos olhos e tem-nos vermelhos. Parece-me que está a soluçar, estará a chorar? Fico logo ali cheio de pena dela. De certeza que foi o Fuínha que lhe deu para a cabeça e a proibiu de se aproximar de mim. Grande c****. Paro um pouco em silêncio para pensar no que haveria de dizer.


- Diz-me só sim ou não. Bateram-te?


- Não, nada disso! – Oh, Matilde, às vezes a maior violência não é física, mas sim psicológica.


- Tu não podes subir a vila nesse estado, os sacos são demasiado pesados para ti, e o percurso é cansativo, não mereces isso. Deixa-me levar-te a ti aos teus sacos. - Ela acaba por aceitar, com muito custo. O que terá acontecido para ela ficar assim?


Coloco os sacos na bagageira e apresso-me para abrir a porta do carro. No fundo estou eufórico, vou levar a rapariga da varanda no meu carro. Sozinhos, dentro do meu carro. Fico até atrapalhado para abrir a porta, parece a primeira vez que dou boleia a uma senhora com compras. Lá abro a porta do passageiro e ela agradece, aproxima-se e esconde a cara.


Já estamos dentro do carro quando pergunto para onde ela quer ir, ao que me responde muito baixinho:


- Para sua casa. - Nem acredito no que os meus ouvidos ouviam, ainda pergunto- Sem querer ofender, disseste a minha casa? - Ela abana com a cabeça. Sim, é para minha casa. - Oh, Matilde sinto-me muito lisonjeado. Nem imaginas a alegria que me davas, mas não sou desses, sou contra ao sexo no primeiro encontro. Ao terceiro ainda vá que não vá, mas nós ainda mal nos conhecemos. - Abri um sorriso com gargalhada a ver que conseguia pelo menos um sorriso impulsivo dela. Sucesso, também ela deu uma gargalhada. Que sorte.


- Os seus pais chegam amanhã e pediram à minha mãe que lhes comprasse comida para ter no frigorífico para quando chegassem. - Diz tentando justificar.


- Ah, então és tu quem está a cuidar da casa? - Ela consentiu sem falar. - Assim já me sinto mais aliviado, é que eu sou muito envergonhado e tímido. - Digo eu procurando mais um riso dela e de facto ela riu-se ainda muito baixinho.


- Então, para quando esse casamento? - Pergunto sabendo que posso estragar o ambiente, mas tenho que a enfrentar sobre o homem com que ela se vai casar. Não me respondeu, nem precisou. Precisava, isso sim, era de pensar na sua vida, no seu futuro.


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